domingo, 20 de maio de 2012

Futebol no Brasil



Futebol brasileiro: origens e cultura


Por: Davi Marangon

O futebol tem sua história atrelada à construção da identidade do povo brasileiro. Todos se unem por um mesmo objetivo quando se trata de torcer pela seleção brasileira. Em nenhum outro momento se percebe tamanho patriotismo e coesão como no momento em que a nossa seleção de futebol entra em campo.

De onde vem tanto fascínio e tanta paixão do brasileiro pelo futebol? Como esse esporte afeta a nossa vida e o nosso cotidiano?
Para responder a essas questões, vamos percorrer um caminho, desde a chegada do futebol ao Brasil, procurando entender como esse esporte se firmou como um patrimônio cultural brasileiro.

O contexto da chegada do futebol no Brasil


O futebol chega ao Brasil no final do século XIX e início do século XX. Os contornos do contexto social brasileiro dessa época podem ser delineados tomando como referência algumas características, como, por exemplo:
  • A sociedade está se urbanizando e o poder político nacional se concentra de forma mais intensa nas mãos da elite de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, representada pelos grandes empresários da agricultura, da indústria, do comércio e do sistema financeiro.
  • Em 1889, o Rio de Janeiro era o maior centro manufatureiro do país, sendo responsável por 57% do capital industrial brasileiro. Já na década de 1920, São Paulo se consolidou como o Estado mais forte, dominando a política econômica do Brasil graças ao acúmulo de capitais e ao grande enriquecimento dos cafeicultores. A construção de ferrovias facilitou a distribuição de produtos e, também, a crescente presença de trabalhadores imigrantes, acostumados com o trabalho nas fábricas. Neste contexto, os estrangeiros se tornaram mão de obra especializada e, em alguns casos, os donos das empresas.
  • Há o encontro de culturas diferentes. O fim do trabalho escravo favorece o aumento da imigração e uma série de mudanças que acarretam a ampliação de ações no sentido de um redirecionamento ao estilo europeu de vida.
  • A elite brasileira se associa aos imigrantes em decorrência da diversificação dos seus negócios, que não se limitavam ao cultivo do café, investindo também em casas comerciais, bancos e indústrias.
Um dos marcos da chegada do futebol ao Brasil, mais especificamente em São Paulo, ocorre em 1894, quando Charles Miller, um estudante, filho de ingleses radicados em São Paulo, chegou de seus estudos na Inglaterra trazendo na bagagem duas bolas de futebol, um livro de regras e uniformes, além dos conhecimentos sobre o jogo aprendido na Banister Court School. Ele foi o divulgador do futebol no Estado de São Paulo, assim como dos costumes relativos à sua prática. 
Crédito: Museu do Futebol / Origens

A sala “Origens” do Museu do Futebol narra, através de imagens, uma história que começou no final do século XIX.
Em 1900, Oscar Cox, também estudante e praticante de futebol na Europa, vindo da Suíça, incentivou a prática do esporte no Rio de Janeiro. Os primeiros treinamentos de futebol foram realizados nos clubes do Payssandu, Rio Cricket e Rio Team, porém, sem nenhuma atração, já que nesses clubes o forte estava na prática de outros esportes como a ginástica, o remo e o boliche.
Charles Miller foi o responsável pela organização das primeiras partidas de futebol no Brasil. Elas ocorriam na chácara de propriedade de uma família de ingleses que viviam na capital paulista. Os primeiros clubes de futebol no Brasil eram de colônias de imigrantes, sendo a colônia inglesa a responsável pela realização dos primeiros jogos.



O futebol: esporte da elite ou da massa?


Assim como acontecia na Inglaterra, local onde se originou o futebol moderno, os primeiros praticantes do esporte no Brasil também pertenciam às elites.

Assim, os jogadores se reuniam nos clubes e organizavam a prática do futebol. Podem-se observar exemplos dessas formas de organização em alguns Estados.

Em São Paulo, o Club Atlético Paulistano, fundado em 1900, reunia a elite da capital paulista. Participou do primeiro campeonato estadual em 1902 e em 1930 teve sua última participação no evento. O São Paulo Futebol Clube tem sua origem ligada ao Paulistano, pois os dirigentes que saíram depois do fechamento do departamento de futebol fundaram um clube chamado São Paulo da Floresta, que cinco anos mais tarde se tornaria o São Paulo Futebol Clube.

Na Bahia, o Sport Club Baihano, fundado em 1903, era frequentado pela alta sociedade baiana, sendo permitida somente a brancos a entrada na piscina, no restaurante e no campo de futebol.

No Rio de Janeiro, o Fluminense Futebol Clube também recebia a elite, tanto dentro como fora de campo. Os mais pobres simpatizantes do time só podiam assistir aos jogos da geral, lugar em que se ficava em pé ao nível do campo, sem poder ver todas as jogadas. As arquibancadas eram reservadas para os mais abastados.
Os praticantes de futebol, que inicialmente se restringiam às elites, começam a mudar de perfil quando surgem os clubes de fábricas e de operários, impulsionados pela produção econômica de estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, que juntos eram responsáveis por 63% da economia do Brasil na década de 1920. 
Crédito: Museu do Futebol / Herois

Na primeira metade do século passado, os brasileiros começaram a identificar ídolos nacionais. Além de poetas, pintores e músicos, os jogadores de futebol também entraram nesse rol.

Os primeiros clubes de fábrica e de operários tinham a presença e grande influência dos trabalhadores imigrantes, que, além das habilidades necessárias para o trabalho nas indústrias, dominavam também as habilidades necessárias para o futebol, pois já praticavam o esporte em seus países de origem.

Entre os clubes de fábrica destaca-se no Rio de Janeiro o The Bangu Athletic Club, escrito dessa forma por ter entre os seus fundadores mais ingleses do que brasileiros. Em São Paulo, ganha destaque o Esporte Clube Juventus, constituído por operários da tecelagem Crespi, localizada na Mooca, tradicional bairro de imigrantes italianos. Em Porto Alegre, por iniciativa de estudantes e trabalhadores, surgiu em 1909 o Sport Club Internacional como forma de oposição aos dois outros clubes já existentes: o Grêmio Porto-Alegrense, da elite, e o Fussball Porto Alegre, exclusivo de alemães e seus descendentes.

Outro fator que contribuiu para que o futebol se disseminasse ainda com mais intensidade como um esporte popular foi a inclusão gradativa dos negros nas equipes. O campeonato carioca de 1923, vencido pelo Vasco da Gama com um time composto de negros, mulatos e pobres, contribuiu para eliminar a imposição elitista, ainda presa à tradição britânica, em manter o futebol como um esporte branco.

O terceiro lugar na Copa da França consagrou o estilo de jogo brasileiro e colocou em evidência jogadores negros, como Domingos da Guia e Leônidas da Silva, principais estrelas daquele time.
Aos poucos, com o afastamento das elites, tinham sido dadas as condições para que, em 1933, fosse adotado o profissionalismo, não sem a resistência daqueles que ainda pretendiam certo purismo no futebol brasileiro. 
Crédito: Museu do Futebol / Herois

Dono de cinco títulos mundiais, o Brasil é o único país que participou de todas as Copas disputadas até hoje.

Nessa época, o futebol brasileiro alcançava um estrondoso sucesso nacional, levando grandes plateias para assistir aos jogos. Esse esporte passa a ser praticado em qualquer lugar, como as praias, os campos de várzea, disseminando-se por todo o país. Hoje, para jogar futebol, basta um objeto qualquer para ser a “bola” e a pelada rola solta.

Em nível mundial, a Federation Association inglesa, o COI e a FIFA tiveram um papel primordial no sucesso que o futebol vem alcançando até os dias de hoje, inclusive no Brasil, pois foi a partir da criação dessas entidades, e por iniciativa delas, que os torneios nacionais e internacionais foram sendo organizados. A seleção brasileira tem grande mérito em criar uma forte identificação do cidadão com o futebol. Desde sua primeira formação, em 1914, até os dias de hoje, o Brasil se mantém como o único país a participar de todas as copas. Além dos resultados e conquistas, o Brasil também é o único pentacampeão do mundo



Futebol: patrimônio cultural do brasileiro


Em todo o mundo se enaltece a qualidade técnica do jogador brasileiro, cuja forma de jogar muitos relacionam com a ideia de um “futebol-arte”. Essa é uma das explicações para a grande popularidade e o fascínio que o futebol exerce sobre o brasileiro.

O estilo de jogo e a técnica refinada, a eficácia e a eficiência exigidas pelo futebol foram assimiladas e incorporadas às características culturais do povo brasileiro. Ao longo deste século, essa forma de jogar futebol passa a representar o homem brasileiro, da mesma forma que o fazem outros fenômenos nacionais, como o carnaval, por exemplo.

Dessa identificação do brasileiro com o futebol, culturalmente vão sendo enraizados hábitos, formas de se relacionar e de usar a linguagem, entre outros, que constituem a identidade da nossa nação: “Brasil, país do futebol, paixão nacional”. 
Crédito: Museu do Futebol / Pelé e Garrincha

A camisa canarinho nº 10 se tornou um símbolo de ousadia, talento e superação.

Incorporamos no nosso vocabulário termos que estão associados ao futebol. Por exemplo, quando estamos confusos diante de alguma situação, dizemos que está na hora de parar a bola e olhar em volta para ter uma noção das diferentes alternativas do “jogo”; quando fazemos alguma coisa errada, dizemos que “pisamos na bola” e demos uma “bola fora”.

É comum vermos presa à porta do quarto da maternidade a chuteira de futebol ou as cores do time pelo qual os pais torcem, principalmente se a criança for um menino. Apesar de hoje a prática do futebol estar mais aberta à participação feminina, há ainda uma forte conotação de gênero que nos diz que futebol é “coisa de homem”. No entanto, percebe-se a presença cada vez maior de mulheres nos estádios, para acompanhar os jogos de futebol masculino, pois o futebol feminino ainda não alcançou o mesmo patamar de aceitação. Porém, nomes como os de Marta, eleita três vezes a melhor jogadora do mundo, chamam cada vez mais a atenção sobre o futebol feminino.

O futebol está muito presente na vida do brasileiro, não só no momento das partidas. Podemos observar, por exemplo, o grande número de músicas que retrataram o esporte; a quantidade de filmes, peças de teatro e novelas que tiveram no futebol o foco principal de suas tramas; sem contar o número de horas diárias dedicadas pela imprensa a esse esporte.

Ao longo dos anos, desde sua chegada ao Brasil, o futebol tem se transformado em uma forma de linguagem por meio da qual a sociedade brasileira pode expressar suas características emocionais mais profundas, tais como paixão, ódio, felicidade, tristeza, prazer, dor, fidelidade, resignação, coragem, fraqueza, entre outras.

Conclui-se que a relação do brasileiro com o futebol foi se constituindo de forma complexa, envolvendo diversos aspectos interligados — históricos, culturais e sociais —, de forma que hoje esse esporte se configura como uma paixão nacional, patrimônio cultural e elemento identificador do povo brasileiro.
Crédito: Museu do Futebol / Anjos Barrocos
Grandes nomes do futebol brasileiro.



Fonte: http://www.educacional.com.br

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